sábado, 9 de março de 2013

No tempo do Sócrates estes artigos de encomenda faziam-se. Afinal, o que mudou?

Cada vez que o governo pretende malhar em alguém aparece um estudo ou uma noticia de mão. E coincidência maior, são sempre da OCDE, uma chancela que já começa a fazer arrebitar as orelhas a muitos sempre que aparece. Já agora o responsável pelo estudo da OCDE é um português engenheiro eletrotécnico ???!!!!

O assunto é velho e os argumentos estafados.

A avaliação tem que se lhe diga e se há coisa que sabemos é que tem de ser um processo claro e simplificado, sob pena de se tornar numa mistificação carregada de suspeição.

Imagine que se avalia um juiz pelo nº de processos, ou um policia pelo nº de multas, claro está que o primeiro desata a despachar com pouco cuidade e analise e o segundo passa à caça à multa. Ou veja-se o que desencadeou a crise financeira de 2008, os gestores de topo começaram a realizar operações de risco e a conceder crédito irrecuperavel, tudo em nome do desempenho. Por isso é preciso cuidado.

No artigo do publico há várias mistificações. Se há coisa que os professores sempre afirmaram até contra sindicatos, é que a avaliação teria de ter a componente de aulas assistidas. Hoje há aulas assistidas na avaliação em vários escalões e só não há mais porque o governo queria uma avaliação low coast: sem avaliadores formados e sem disponibilizar tempo para esse processo extremamente burocrático que quis implementar. Aliás a avaliação de professores em Portugal é um processo no minimo kafkiano nunca visto em qualquer outra profissão, nem na administração publica.

Mas vejamos. Os modelos dos paises ricos, ditos da OCDE, maioritariamente do Norte, podem ser um chapeu que lá por cima dá para qualquer cabeça, mas no mediterrâneo a realidade socio-económica é outra. Aliás, se o modelo Espanhol ou Italiano é bom, porreiro pá, passamos nós também a usa-lo.

Mas vejamos um exemplo prático, assim rápido. Um modelo baseado na avaliação dos alunos. Dois professores com competências iguais, um está numa escola do centro da cidade, numa área favorecida, onde os alunos competem por notas altas para ingressar no ensino superior; outro, está numa escola de subúrbio onde os filhos dos operários têm pouco acompanhamento e fracas aspirações. Está claro que a primeira escola aparecerá nos rankings liberais bem classificada, e a segunda no final da lista apesar dos professores terem apanhado um esgotamento, ou algum ter sido agredido, ou ter simplesmente conseguido cativar os alunos a não faltarem às aulas, ou que os encarregados de educação encarnem o papel de pais e acompanhem os filhos e apareçam na escola.

Aqui na Póvoa de Varzim, num sistema de avaliação de professores basedo no desempenho dos alunos, será que alguma vez os professores do Cego de Maio e Aver o Mar conseguirão ter uma avaliação superior aos da Rocha Peixoto e Eça? aliás já são penalizados, pois o menor sucesso das primeiras duas escolas - de meios socioeconómicos desfavorecidos - acabou com o acesso desses professores às notas mais altas na avaliação, pois a quotas foram reduzidas.

No tempo do Sócrates estes artigos de encomenda faziam-se. Afinal, o que mudou?

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